quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Experiência universitária.

Você aguenta, segura o choro, aguenta o ronco, esquece do fogão, não abre mais a geladeira. Toma banho, fuma ponta de palheiro pra evitar que os sintomas apareçam de novo.
Já ela não. Tem miado o dia todo querendo comer o que gosta, pulado nos móveis e espalhado os objetos no chão achando que o problema é a falta de atenção.
Você fica doida, tentando não ouvir o miado, tentando juntar os caquinhos dos objetos jogados, organizar novamente os móveis, marcar leite na venda pra despistar a fome. Fica louca procurando soluções, pensando no que vender, o que fazer primeiro pra essa situação não piorar. Fica ensaiando os 'nãos' que devia saber falar pra não aumentar progressivamente essas dívidas.
Ela mia mais e mais, parece que joga na cara o tanto que você não tem força pra sair da cama, nem voz pra tentar que tudo fosse como você gostaria, ela mia, mia e dorme de fome. Ela consegue miar frases de desprezo na minha cabeça.
Seu coração estraçalha, você fica perdida, rodeada de gente que tá vendo o problema mas finge ser cega, ou é burra demais pra perceber que você está sem sono, estressada, com fome. Muita fome.
Não tem vazio maior, ou solidão mais latente. É um sentimento independente, que consegue corroer lentamente cada parte do seu corpo, incluindo o cérebro, que vira uma confusão, um misto de ódio e tristeza, uma avalanche que intensifica qualquer sentimento. Sua atenção seleciona apenas os trechos que falam de comida, ou as imagens corriqueiras que te ligam ao ato de alimentar-se.
Parece exagero, desespero ou miséria. Dá vontade de bater em quem diz isso estando apenas 40 horas sem comer, com a distância de uma ligação com uma desculpa muito boa pra resolver o problema... mas a fome traz isso: você é capaz de aceitar ajuda de qualquer pessoa, menos daquelas que você ama, ou tem zelo, porque o orgulho triplica, a fraqueza do corpo e a sensação de fraqueza de caráter e mente te deixam ainda mais vulnerável a aceitar um prato de comida. Que orgulho é esse!?
Agora eu penso em quem não tem dia certo pra comer: como se espera qualquer atitude pacífica diante de tanto ronco, tanta gastrite de esvaziamento? Como se espera engajamento pra trabalhar, 'se virar', 'largar de ser vagabundo' se o saco não consegue ficar em pé?
Sem cabeça pra pensar em qualquer conclusão onde eu não pareça uma morta de fome (por opção) que consegue ser egoísta e orgulhosa em todas as situações, eu vou parar por aqui, criar coragem e sair pra marcar toda "gordice" do mundo na mercearia em frente de casa.

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Acordei com a mesma sensação de ser revirada que senti tempos atrás. Uma imensa culpa de sei lá o quê, uma imensa raiva de sei lá quem. As cores do dia não ajudaram, nem os programas que só pensei pra passar o tempo feliz, imersa no esquecimento da infelicidade passada.
Segurei o dia todo um soluço extremo de dor. Sentindo raiva de mim, do meu corpo, de pessoas que dividiram a vida e a morte comigo. E eu, que me sinto tão madura em dias comuns, fico me sentindo insegura, sozinha, triste... sem entender que hoje quem desistiu de se animar fui eu.