sábado, 16 de janeiro de 2016

RELATANDO ABUSO I

Pra um relacionamento ser abusivo, não precisa haver, necessariamente, um controle direto: "Não saia", "Não fale com aquele cara", "Não", "Não" e "Não".
Meu último relacionamento foi abusivo e, ainda assim, não faltaram declarações de amor, palavras de carinho e desejos de uma boa vida futura. Esse, meus amigos, foi pior que aquele meu segundo relacionamento coroado com chifres e mais chifres. Sabe porque?

Terminamos aos gritos, dei um show de verdades, disse que não queria mais estar junto. Dormimos e, ao acordar, pensei que não rolava terminar por uma briga de bêbado. Já ele, que sentiu a força das palavras de ódio, quis terminar. Nada mais natural.

Passou um tempo e voltamos. Não digo que foi o maior erro porque não existe regra pro gostar. Ainda nos amávamos e por isso a chance de fazer valer não podia passar longe. Brigamos de novo, bêbados de novo. Dessa vez, eu com a razão, perdi o controle e dei um empurrão de raiva. Perdi a razão. Ele, com o ódio estampado, bravejou, gritou, me diminuiu em palavras grosseiras como "arrogante", "inútil" e mais um tanto de coisa triste. Terminamos, e dessa vez eu não queria mais voltar.

Sempre que olhava pra ele ou me lembrava de um momento bom, pensava nas palavras duras e sinceras. Caiu minha ficha que no amor não existe ódio, que uma discussão boba não podia virar uma tormenta se existisse respeito.

Dois meses se passaram. Ele decidiu vir falar comigo. Falou no Natal, me cobrou felicitações. Respondi, e acabei percebendo uma virtude que tenho em mim: a inabilidade de sentir rancor. Nos falamos por mais uns dias, tudo na santa paz. Aquele recomeço de amizade que todo mundo conhece, onde tudo são flores, onde tudo são planos contados, onde tudo é troca e empatia.

Boba. Em uma das trocas de mensagens ele acabou me questionando porque eu parecia tão bem e ele se sentia tão mal. Me confundi, pensei que era amor enrustido, pensei sentir a mesma coisa de outra maneira, mas não. Eu estava realmente bem sem a companhia dele, eu estava realmente lúcida quando não o respondia rapidamente. Me deixei levar na onda do "amor pra sempre".

Voltamos numa onda de internet, de troca de mensagens e gifs engraçadinhos. Aí foram alguns links de projeto, de texto de militância, de texto político, de possíveis teses e dissertações. Dividimos planos e futuros, tendo como aliada a distância (que pra mim nunca funcionou muito bem). Brigamos umas 30x em cinco dias. Nesse ponto ele já não admitia seus erros, já me culpava de forma indireta pela "cobrança" de resposta (ele havia me dito que seria um prazer passar tardes conversando comigo), já me tratava como estorvo.

Conversando com uma grande amiga, dividi algumas dessas conversas e perguntei se eu estava louca ou se ele, de certa maneira, estava me levando pra instabilidade emocional de antes. Só de dividir, mesmo sem uma resposta direta, percebi nas minhas palavras que eu tinha dúvida sobre quem eu era. Cinco dias antes eu não estava assim. Cinco dias antes eu tinha um plano traçado pra esse começo de ano. Cinco dias antes eu estava rindo feito criança catando confete no carnaval!

Eu, mais uma vez boba, segui em frente nessa loucura de voltar por essa telinha. Anteontem, depois de uma madrugada de troca de mensagens cheia de amor, fui dormir bêbada tendo ele como companhia (são). Acordo seis horas depois com uma mensagem enorme, três páginas de word, me dizendo que me ama muito, me ama tanto, mas que é bicho solto, que não podia trair quem ele tanto ama prometendo uma vida a dois no modo antigo (se vendo todo dia). Agora eu problematizo:

Eu não sou bicho solto? Eu também não tinha planos? Eu também não queria mais a forma de se relacionar de antes? Ele queria preencher o vazio dele tirando a minha paz? Ele, bicho solto, de esquerda e politizado, não podia aguentar a saudade e a dor da perda (sem o tom de posse) assim como eu aguentei? Quando ele veio me cutucar aqui, no meu cantinho, não devia ter pensado nesse amor todo e nessa discrepância toda do nosso futuro? Não devia ter ficado na dele?

Me tirou a paz por cinco dias e se eu não escrevesse esse texto, ficaria com essa bola de pelo encasquetada na garganta, viraria um câncer cheio de "amor pra sempre". Foi rude, egoísta, mesquinho e infantil pedir o retorno sem pesar na balança. As frases que ele usou do natal até o dia 10, foram essas: "não quero te pesar, mas...", "não quero te fritar, mas..." fritou, pesou.

Não guardo rancor e isso é mérito meu. Não sinto raiva porque amei de verdade e guardo comigo as várias palavras bonitas. Mas escrevo esse texto pra deixar claro: NÃO NOMEIE SUA INSEGURANÇA COM CARINHO E CUIDADO. Não assuma relacionamentos enquanto houver uma pulga atrás da orelha. Meninas, vocês principalmente, não aceitem estar numa relação onde a palavra amor vem pra justificar mesquinharia.

Se empoderem, se respeitem e exijam respeito!

(deve ter um monte de erro, mas escrevi isso aqui na pressa só pra acabar logo)