Estava em um relacionamento normal, e até a paz de estar com alguém me era cansativa. Inúmeras vezes, de forma passional, provoquei discussões, causei um caos na vida dele e um ainda maior na minha. Me distanciei de todo mundo e não entendia porque essa gente ainda se relacionava com outras pessoas, tão normais, tão paradas. Travei meus pensamentos nas experiências ruins, que não foram poucas, e voltei minha vida para a lamentação, pra tristeza de acordar todo dia no mesmo corpo, na mesma cama, com a mesma pessoa.
"Vem, levanta", "Você precisa parar de fumar", "Você precisa fazer exercícios", "Você tem que levantar", "Para de sofrer com isso agora", "Você é muito exagerada", "Você tem que cumprir sua agenda", "Você não é insubstituível", "Você é arrogante", "Você é hipócrita", "Você é mesquinha". Cancerígenas, assim que eu adjetivo essas frases. E elas vinham de todos os lados, inclusive daqueles que dividiam a rotina comigo.
Antes eu era muito animada, ansiosa, engraçadinha. Não sei em qual momento houve a transição de personalidade, não sei quando a depressão chegou, não sei quando a insegurança desceu e fez da minha cabeça morada, só sei que durou oito anos, que ela dorme aqui dentro e tá doidinha pra me consumir de novo. Mas não vai!
Foi um processo muito complicado. Começou com a viagem ao mundo amazônico, uma imersão que vai ficar pra sempre grudada em mim, onde questionei minha vida, avaliei as coisas que não fluíam bem. Terminei o relacionamento com brigas colossais, vivi a Universidade de corpo e alma, doida pra formar e sentir que havia passado mais uma etapa. Passei dias duvidando de mim mesma e dias amando ser quem eu sou. Tive ajuda de grandes amigos, novos e antigos, que me ajudaram só por estarem presentes, conversando sério, escrevendo projetos, dando risada das coisas da vida e falando bobagem. Saí da minha caverna e zona de conforto, entendi que, opa, pra sair daquela cama eu só precisava de estímulo.
Passei a ver minha vida como única e caiu a ficha que ela é uma dádiva de quem está vivo. Tenho a sorte de ter saúde, uma família que acredita em mim, companheiros sinceros que estão sempre presentes e a sede por amorzinho (essa, insaciável).
Se pra acreditar em mim você precisa de uma citação, eu escolho Galeano e o clichê do Mar de Foguinhos, onde vejo minha vida com depressão como o fogo bobo, imperceptível, e minha consciência sã como o fogo que arde a vida com tanta vontade que incendeia até quem está em volta. Culpo as faíscas daquelas pessoas que foram tão boas comigo nesses dois últimos meses, e que viram em mim uma brasinha em potencial... obrigada por se aproximarem.
Passar por isso foi uma prova incrível de que existe jeito. Hoje eu escrevo esse texto pra mim mesma, como forma de reavivar minha esperança se um dia esse cachorro preto resolver voltar.
ps: ninguém é obrigado a ajudar um depressivo, só é preciso cuidado para não piorar a situação. O silêncio, muitas vezes, é nosso maior aliado.
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