quarta-feira, 24 de junho de 2015

existência

existir é pouco.
o que é a carne,
o que é o corpo?

nas relações,
o que sou eu,
quem são vocês?

me vejo como um monte de merda cagada,
reproduzida, fofocada.
me vejo como um estorvo,
uma faladeira de sentimento meu,
e mau.

hoje é aniversário de uma alma que eu amo,
mas é aniversário de um dia que eu odeio.

então o que são os dias,
os significados,
a existência?

seria um apanhado de coisas, lembranças,
teorias, conflitos, opressões, blablazismos,
lágrima, solidão e vontade de partir?

que comece a contagem regressiva que eu sempre quis.
me faltava coragem. hoje sobra, junto com a bagagem.

2 comentários:

Carolina Cruz disse...

Seria lindo se existissem apenas 365 formas de levar a vida, cada uma distribuída em um dia do ano. É um pensamento egoísta achar que 24 de junho seja apenas meu aniversário (gostaria que fosse), mas sei que para uns o dia também é de alegria e para outros não. Gostaria que pra você hoje fosse apenas meu aniversário, mas fico grata por (indiretamente) ser seu porto seguro e o motivo positivo pra levantar nessa quarta-feira nublada. Sinta-se abraçada pela alma que ama e que também te ama. ;)

Carlos Arthur Resende disse...

Ecos de sua Existência...

"E pois, com a nau no mar",
não há mais volta a terra firme −
o lar pretérito, Éden abandonado:
o que deixamos para trás é o que temos
sempre à nossa vista −
circunavegar:
nave a vagar
e circundar
a ciranda eterna dos mesmos portos,
o mesmo horizonte de um mar eterna-
mente móvel e, ao mesmo tempo, uno.

Existir, como tu ensinas, ainda é
pouco: Caminho de Odisseu imperfeito,
Ítaca sempre adiada, o regresso
à origem que não tivemos, plenos
de nostalgia do que nunca foi

(caminho de volta ladeado
de receios: nasce
no coração de quem retorna,
qual jardim de uma só planta,
uma luzente e amarela, a mais
límpida flor do medo, de longas,
obscuras raízes que ressecam
solo, língua, olhos, coração)

Mas ensinas também a coragem
que inflama velas e ânimo audacioso
e sonhos que transcorrem na vigília
de ton corps, dans la surface
de ta peau, gravado à tinta e sangue:
le coeur qu'aime, n'a pas peur.

Os dias, os significados, a existência são,
como toda volta, a ânsia de uma chegada,
essa que contas para trás − como quem ama,
e conta o tempo ao revés. Tudo que na vida
não for passagem, provém do maligno.

(Esse eu fiquei com vergonha de postar no face, rsrsrs. Mas continuo impressionado com a capacidade de diálogo poético que seu versos encerram. A partir de alguns de seus poemas, parece que tudo o mais pode vir a ser dito).