sexta-feira, 8 de agosto de 2014

"Quantos pratos serão necessários?"

Na casa de Pinda somos em cinco. Meus pais, minha irmã, meu irmão e eu. Não somos muito de viajar (na realidade, somos. Nos falta tempo quando não falta dinheiro), saímos bastante juntos e gostamos de programas de gordinhos, com muita comida, vinho e cerveja. Quando penso em sangue, gordura e bacon, penso em jantares na madrugada, feitos pelo meu pai, devorados por todos nós.

Um dos programas que gosto de fazer em família é ir ao supermercado. Com meu pai, na verdade, é ele quem faz as compras da cozinha. Anteontem, fui à um atacadista com ele, um dos vários que inauguraram esse ano na cidade. Ele é um ótimo ouvinte e sabe me prender nas histórias que conta. Falamos sobre a vida, sobre paixões, sobre amor, sobre carreira e, finalmente, sobre comida. Decidimos que seria noite da pizza em casa e começamos a comprar os ingredientes. Catupiri, Cheddar, 3 pacotes de massa pronta, Azeitona chilena (a número um nos assaltos à geladeira), Atum, Muçarela, Bacon... enfim, tudo aquilo que faz uma pessoa em sã consciência amar o poder da culinária.

Não bastasse a beleza dos ingredientes, meu pai decidiu comprar novos pratos. "Pratos para a pizza ficar mais gostosa", ele disse. No corredor deles, vimos uma pilha de uns tão branquinhos, com detalhes moldados nas bordas, lisos, rasos, lindos. Nos imaginamos cortando as pizzas neles, pegamos umas facas e forçamos o fundo para ver se os riscos surgiriam caso a massa passasse do ponto. Testado. Aprovado! Meu pai, então, me perguntou: quantos eu pego? Quatro ou cinco?

Silêncio.

A simplicidade daquelas palavras me deixou clara a dúvida que existia em mim: a fé que ele tem na filha é tão grande, que parece óbvio perguntar se quero um prato só meu. "Ela não mora mais aqui", ele deve pensar.

Naquelas frações de segundos, percebi que voltar para casa é uma opção que definha a cada dia. A estadia 'para pensar no que fazer' é agora, nesse tempo de visita. Minha casa é a casa dos meus pais, a casa dos meus irmãos - temporariamente.
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"Quatro pratos, pai. Eu prefiro aquele que tem em casa, de porcelana com a borda azul. Também não risca e é maior", falei juntando o punhado de facas que usamos para riscar os pratos, deixando cair uma lágrima e outra no corredor das louças.

2 comentários:

Trajetória da vida disse...

Lindo! Voltei a ter um tempinho e com isso voltei a captar seus sentimentos. Parabéns! Belas palavras que retratam um pouco minha realidade.

Maria Brechó disse...

amigaaaa.. Adoreiii... Quero ir passear aiii.. beijosss!!